sexta-feira, 23 de março de 2007

Scoop





Sai do cinema confirmando minha eterna desconfiança dos lançamentos. Foram 96 minutos daquele Woody Allen que eu tinha muita saudade. Sem menosprezar o anterior, muito bom, mas sem o ator Woody Allen.
O de agora tem tudo ! É ótimo.
Por sorte achei no Estadão hoje este artigo do crítico JOTABÊ MEDEIROS . Não, não liguei para o Estadão assim que sai do cinema. Ainda tem muita gente boa no jornal ...
Leia essa maravilha:


Scoop é uma pequena obra-prima do cineasta
Sátira jornalística e embate de personagens são chave do filme


Jornalismo, no cinema, é quase sempre levado muito a sério - como acontece na vida real, jornalistas de filmes tendem a se achar mais importantes até do que a notícia (sorte que não é verdade, right?) Desde os quadrinhos do Tintin, são sempre histórias sobre investigações mirabolantes e furos imemoriais, como o escândalo de Watergate, ou produções sobre idealistas se batendo contra todo tipo de conspiração do poder.É por isso que defendo que Scoop, de Woody Allen, é uma pequena obra-prima.Woody Allen não entende nada de jornalismo. Ainda assim, sabe mais que os novelistas brasileiros e certos romancistas latino-americanos, que sempre retratam jornalistas como figuras idealizadas, quixotescas.O raquítico e míope diretor de Manhattan, delirantemente perspicaz, resolveu eleger como heroína do seu filme uma sonsa aspirante a repórter de uma faculdade medíocre do interior americano, Sondra Pransky (Scarlett Johansson), que tem o hábito de terminar na cama dos entrevistados. Verossímil, para quem está no métier.Scarlett está perfeita em pele de foca: veste-se desastradamente, sorri ingenuamente (com um certo brilho loser no olhar) e acreditou em todos os clichês sobre a futura profissão, o que a torna uma vítima ainda mais vulnerável do que cidadãos comuns.Há ainda dois jornalistas veteranos na trama. O primeiro é o oportunista Joe Strombel (Ian McShane), que logo após morrer descobre, a caminho do Inferno, um furo fenomenal: um dos maiores playboys da Inglaterra, Peter Lyman (Hugh Jackman), seria na verdade um serial killer, o Assassino da Carta de Tarô. A obsessão jornalística, maior do que a morte ou a ética, faz Strombel voltar do Além para dar seu furo de reportagem.O outro é um jornalista 'real', veterano do Observer, que tenta dissuadir a jovem repórter de investir na história do aristocrata assassino, embora todos os elementos que possui indiquem que seja verdadeira. A cartilha que ele recita (ele usa a expressão 'lecture', palestra, em sua doutrinação) é aquela de evitar problemas, processos, inimigos. A pasmaceira é sempre mais indicada, só falta dizer o homem.Incumbida pelo finado Strombel de escrever a grande reportagem, a 'foca' Sondra só encontra uma ajuda para checar a história. Quem é o escolhido? Um ilusionista embusteiro e misantropo, Sidney Waterman (Woody Allen), também conhecido como O Grande Splendini.Para completar, o mágico dá uma de repórter ao apurar a morte de uma prostituta. Apresenta-se como repórter do Washington Post. 'Já viu o filme Todos os Homens do Presidente? Eu sou o baixinho', diz. No Brasil da carteirada jornalística, a piada de Woody talvez colasse.As gags de Woody Allen sobre a Inglaterra, que tanto furor causaram, são tão inofensivas quanto seus comentários sobre teologia, filosofia, sexualidade. O seu 'truque', vulgar como os de Splendini, é a química cômica entre personagens de constituição radicalmente oposta. E ele se dá bem nas duplas desse Scoop.Os diálogos entre Sondra e Splendini lembram aqueles das séries de TV antigas, como o Agente 86 e a Agente 99, ou da bruxa Endora e seu genro James. Um embate rápido e intrinsecamente engraçado. Vestido como um Columbo amarfanhado, o repórter do além Joe Strombel dança em cima dos clichês, um show de ironia.Woody Allen mostra que o triunfo jornalístico se dá muitas vezes por acaso, distraidamente, à revelia de toda a maré contrária. Allen é brilhante, mesmo quando dizem que ele fez 'um Woody Allen menor', munidos das suas diligentes réguas de medir qualidades cinematográficas.





Scoop - O Grande Furo(96 min.) - Direção de Woody Allen. Cotação: Ótimo (é minha tambem !)

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